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Tipos de Autismo e Seus Níveis: Guia Completo Sobre o TEA

Foto do escritor: Dyane Lombardi RechDyane Lombardi Rech
A criança com Autismo nível 1 necessita de 'pouco apoio'.
A criança com Autismo nível 1 necessita de 'pouco apoio'.

Hoje, 2 de abril, celebramos o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, data estabelecida pela ONU em 2007 para promover maior compreensão sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esta data representa uma oportunidade valiosa para ampliarmos nosso conhecimento sobre as diferentes manifestações do autismo e combatermos estigmas que ainda persistem na sociedade.


O autismo é uma condição de neurodesenvolvimento que afeta a forma como a pessoa percebe o mundo e interage socialmente. Uma das características mais importantes do TEA é justamente ser um "espectro", ou seja, manifestar-se de formas extremamente variadas entre os indivíduos. Para melhor compreender essas diferenças, o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) estabeleceu uma classificação em níveis que auxilia profissionais e familiares a entenderem as necessidades específicas de cada pessoa.



Os Três Níveis do Transtorno do Espectro Autista


De acordo com o DSM-5, os níveis de autismo são determinados com base no grau de suporte que a pessoa necessita para executar suas atividades diárias e no impacto que suas dificuldades têm sobre sua funcionalidade. Esta classificação não deve ser vista como limitante, mas sim como uma ferramenta para identificar necessidades específicas de apoio e planejar intervenções adequadas.


Nível 1: Autismo Leve - "Necessita de Pouco Apoio"

O autismo de nível 1, frequentemente referido como leve, caracteriza-se por:


  • Comunicação: Apresenta comunicação verbal presente e funcional, podendo ter um vocabulário rico, mas com possíveis dificuldades em iniciar interações sociais e manter conversações recíprocas.

  • Interação Social: Demonstra interesse por relacionamentos sociais, mas pode enfrentar desafios para entender regras sociais implícitas, interpretar expressões faciais ou compreender ironias e metáforas.

  • Comportamento: Pode apresentar interesses restritos e padrões comportamentais específicos, mas que não comprometem significativamente seu funcionamento diário.

  • Cognição: Geralmente tem bom desenvolvimento cognitivo, frequentemente com inteligência média ou acima da média, podendo se destacar em áreas específicas de interesse.

  • Autonomia: Consegue realizar atividades de vida diária com independência, precisando apenas de apoios pontuais em situações específicas ou ambientes novos.


Sinais característicos:

  • Dificuldade para entender sutilezas sociais

  • Possível hipersensibilidade sensorial (sons, luzes, texturas)

  • Preferência por rotinas previsíveis

  • Interpretação literal da linguagem

  • Possíveis dificuldades com flexibilidade cognitiva

Pessoas com autismo nível 1 frequentemente conseguem estudar em escolas regulares, desenvolver carreira profissional e viver de forma independente, especialmente quando recebem os apoios adequados durante seu desenvolvimento.



Nível 2: Autismo Moderado - "Necessita de Apoio Substancial"

O autismo de nível 2 requer um suporte mais consistente e apresenta:


  • Comunicação: Pode apresentar linguagem verbal com limitações mais evidentes, como vocabulário restrito, ecolalia (repetição de palavras ou frases), ou uso de frases curtas e diretas. Alguns indivíduos podem utilizar comunicação alternativa complementar.

  • Interação Social: Demonstra interesse social mais limitado, com dificuldades mais acentuadas para iniciar e manter interações, podendo parecer desinteressado mesmo quando não está.

  • Comportamento: Apresenta comportamentos repetitivos e interesses restritos mais evidentes, que podem interferir no funcionamento em diferentes contextos. Pode demonstrar maior resistência a mudanças na rotina.

  • Regulação Emocional: Frequentemente apresenta dificuldades para regular emoções, podendo manifestar irritabilidade, agitação ou ansiedade quando enfrentando situações desafiadoras ou mudanças inesperadas.

  • Cognição: O desenvolvimento cognitivo pode ser variável, desde apropriado para a idade até limítrofe, com possíveis discrepâncias significativas entre diferentes áreas de habilidade.


Sinais característicos:

  • Comunicação social claramente atípica mesmo com suporte

  • Dificuldade para lidar com mudanças

  • Comportamentos restritivos/repetitivos suficientemente frequentes para serem percebidos pelo observador casual

  • Sofrimento ou dificuldade para mudar o foco ou ação


Indivíduos com autismo nível 2 geralmente necessitam de acompanhamento especializado mais intensivo, adaptações escolares significativas e apoio mais constante em atividades cotidianas.


Nível 3: Autismo Severo - "Necessita de Apoio Muito Substancial"

O autismo de nível 3 representa o grau que requer maior suporte:


  • Comunicação: Pode ter ausência de linguagem verbal funcional ou comunicação muito limitada, usando palavras isoladas ou frases simples. A comunicação frequentemente depende de sistemas alternativos (como cartões de comunicação, dispositivos eletrônicos ou linguagem de sinais).

  • Interação Social: Apresenta dificuldade acentuada para iniciar interações sociais e responde minimamente às tentativas de aproximação dos outros. Pode demonstrar desconforto significativo em situações sociais.

  • Comportamento: Exibe comportamentos repetitivos e interesses restritos com alta frequência e intensidade, que interferem significativamente no funcionamento em todos os contextos.

  • Funcionamento Adaptativo: Demonstra grande dependência para atividades de vida diária, necessitando de supervisão e auxílio constantes para tarefas básicas como alimentação, higiene e segurança.

  • Comorbidades: Frequentemente apresenta comorbidade com Deficiência Intelectual e pode ter outros desafios associados, como epilepsia ou condições genéticas específicas.


Sinais característicos:

  • Déficits severos na comunicação verbal e não verbal

  • Extrema dificuldade para lidar com mudanças

  • Comportamentos restritivos/repetitivos que interferem marcadamente no funcionamento

  • Grande sofrimento/dificuldade para mudar o foco ou ação

  • Possível autoagressão ou comportamentos desafiadores


Pessoas com autismo nível 3 geralmente necessitam de suporte intensivo, intervenções multidisciplinares constantes e, em muitos casos, adaptações ambientais significativas para garantir sua segurança e qualidade de vida.



A Importância do Diagnóstico Precoce e Intervenções Adequadas


É fundamental destacar que, com intervenções apropriadas, planejamento personalizado e ações consistentes, muitas pessoas com TEA podem desenvolver habilidades significativas e aumentar sua autonomia, podendo inclusive migrar de um nível para outro ao longo de seu desenvolvimento.


O diagnóstico precoce é um fator crítico nesse processo. Estudos demonstram que quanto mais cedo forem identificados os sinais de autismo e iniciadas as intervenções adequadas, melhores serão os resultados no desenvolvimento da criança. Alguns sinais podem ser observados já no primeiro ano de vida, embora o diagnóstico formal geralmente seja estabelecido entre 2 e 4 anos.



Sinais de Alerta para o Autismo em Diferentes Idades


Até os 12 meses:

  • Ausência ou redução do contato visual

  • Não responder quando chamado pelo nome

  • Não sorrir em resposta a sorrisos

  • Ausência de balbucio comunicativo


Entre 12 e 24 meses:

  • Não apontar para mostrar interesse

  • Não desenvolver gestos comunicativos (como dar tchau)

  • Não brincar de faz-de-conta

  • Perda de habilidades previamente adquiridas


A partir de 24 meses:

  • Atraso significativo na linguagem

  • Ecolalia (repetição de palavras ou frases)

  • Alinhamento obsessivo de objetos

  • Reações incomuns a estímulos sensoriais

  • Movimentos repetitivos (como balançar o corpo ou agitar as mãos)



Intervenções Eficazes para o TEA


As intervenções para o TEA devem ser individualizadas e abrangentes, considerando as necessidades específicas de cada pessoa:


  1. Intervenções Comportamentais:

    • ABA (Análise do Comportamento Aplicada)

    • TEACCH (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits Relacionados à Comunicação)

    • Denver Model

  2. Terapias de Comunicação:

    • Fonoaudiologia

    • PECS (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras)

    • Tecnologias Assistivas

  3. Terapias Sensoriais e Motoras:

    • Terapia Ocupacional

    • Integração Sensorial

    • Psicomotricidade

  4. Apoio Psicológico:

    • Para a pessoa com TEA

    • Para familiares e cuidadores

  5. Abordagens Educacionais:

    • Adaptações curriculares

    • Mediação escolar

    • Ensino estruturado



Desmistificando o Autismo: Além dos Níveis


Embora a classificação em níveis seja útil para orientar intervenções, é essencial compreender que cada pessoa com autismo é única, com potencialidades, desafios e características próprias que transcendem qualquer sistema de classificação.



Capacidades e Talentos no TEA

Muitas pessoas com TEA apresentam habilidades notáveis em áreas específicas:


  • Memória excepcional: Capacidade de reter detalhes e informações com precisão impressionante

  • Pensamento visual: Habilidade para pensar em imagens e visualizar conceitos abstratos

  • Hiperfoco: Capacidade de concentração intensa em áreas de interesse

  • Percepção diferenciada: Notam detalhes que outros não percebem

  • Honestidade: Tendência à comunicação direta e sincera

  • Pensamento lógico: Abordagem sistemática e analítica para resolução de problemas



Desafios Comuns e Estratégias de Apoio

Independentemente do nível, existem desafios que podem ser enfrentados por pessoas com TEA e estratégias eficazes para apoiá-las:


Desafio: Sobrecarga Sensorial Estratégia: Adaptações ambientais como redução de ruídos, iluminação adequada e criação de espaços de descompressão.


Desafio: Ansiedade Social Estratégia: Antecipação de situações sociais, scripts sociais e exposição gradual a novos ambientes.


Desafio: Rigidez Cognitiva Estratégia: Uso de apoios visuais, cronogramas estruturados e introdução gradual de pequenas mudanças na rotina.


Desafio: Dificuldades de Comunicação Estratégia: Comunicação clara e direta, evitando linguagem ambígua ou figurada, e uso de suportes visuais quando necessário.



Inclusão e Aceitação: Caminhando para um Mundo Neurodiverso


Entender melhor o Transtorno do Espectro Autista é crucial para combater o preconceito e a discriminação que ainda cercam as pessoas com TEA. A neurodiversidade – conceito que reconhece e respeita as diferentes formas de funcionamento cerebral – nos convida a valorizar a diversidade neurológica como parte natural da variação humana.


Pessoas autistas não apresentam uma forma "errada" de perceber e interagir com o mundo – apenas uma forma diferente que merece ser compreendida e respeitada. Cada pessoa com TEA tem seu próprio conjunto único de habilidades, desafios e perspectivas valiosas que contribuem para a riqueza da experiência humana.



Direitos e Legislação

No Brasil, pessoas com TEA são amparadas por diversas leis que garantem direitos importantes:


  • Lei 12.764/2012 (Lei Berenice Piana): Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista


  • Lei 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência): Garante direitos fundamentais de inclusão


  • Lei 13.977/2020 (Lei Romeo Mion): Cria a Carteira de Identificação da Pessoa com TEA


Estes dispositivos legais asseguram acesso a serviços de saúde especializados, educação inclusiva, mercado de trabalho e benefícios sociais quando necessários.



Conclusão: Promovendo Consciência e Aceitação


O Dia Mundial de Conscientização do Autismo nos convida a ampliar nossa compreensão sobre o TEA e a criar uma sociedade mais inclusiva e acolhedora para pessoas neurodiversas. Compreender os diferentes níveis e manifestações do autismo é apenas o primeiro passo nessa jornada.


À medida que desenvolvemos uma visão mais abrangente e empática sobre o autismo, contribuímos para um mundo onde cada pessoa pode ser valorizada por quem é, e não julgada pelo que não é. As pessoas com TEA apresentam apenas uma forma diferente de agir e encarar o mundo – uma perspectiva que enriquece nossa experiência coletiva e nos ensina sobre a verdadeira diversidade humana.


Se você suspeita que seu filho ou alguém próximo possa ter TEA, busque avaliação profissional especializada. O diagnóstico precoce e as intervenções adequadas podem fazer uma diferença significativa no desenvolvimento e na qualidade de vida.



Perguntas Frequentes sobre os Tipos de Autismo e seus Níveis


1. Uma pessoa pode mudar de nível de autismo ao longo da vida? Sim, especialmente com intervenções precoces e adequadas, muitas pessoas com TEA podem desenvolver habilidades que reduzem sua necessidade de suporte, efetivamente "migrando" para um nível que requer menos apoio.


2. Existe cura para o autismo? O autismo não é uma doença, mas uma condição do neurodesenvolvimento, portanto não se fala em cura. As intervenções visam desenvolver habilidades, reduzir desafios e melhorar a qualidade de vida.


3. O que significa o símbolo do quebra-cabeça associado ao autismo? Embora tenha sido muito utilizado, este símbolo é cada vez mais questionado pela comunidade autista, que prefere o símbolo do infinito colorido, representando a neurodiversidade e o espectro do autismo.


4. Meninas com autismo são mais difíceis de diagnosticar? Sim. Pesquisas indicam que meninas frequentemente apresentam o chamado "mascaramento" de sintomas, tendendo a imitar comportamentos sociais com mais eficácia, o que pode retardar o diagnóstico.


5. Adultos podem receber diagnóstico de autismo? Absolutamente. Muitos adultos recebem diagnóstico tardio, especialmente aqueles com autismo nível 1 que desenvolveram estratégias compensatórias ao longo da vida.

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